
Naquela noite eu estava sozinha em casa, a luz fraca tremulava no abajur velho em cima do criado-mudo, meu rosto estava todo banhado em lágrimas, meus olhos vermelhos inchados...eu rasgava com raiva meus medicamentos, os comprimidos caíam no chão todos de uma vez..Corri para a cozinha, peguei uma faca, precisava me sentir viva. Fiz um pequeno corte no pulso, queria ver o sangue escorrer pelo braço, queria sentir dor, mas nunca era maior do que a dor do peito...Já estava tudo planejado naquela noite. Seria no banheiro, na sala, ou no quarto mesmo? Olhei a corda já amarrada com força em uma pedaço de madeira que eu mesma preguei em cima da cama. Não queria correr o risco de arrebentar. Foi tudo certificado, pensado. Coloquei a carta de despedida escrita a próprio punho embaixo da corda. Eu apenas pedia perdão.
Chegou o momento negro, subi na cadeira, cabeça dentro do nó, respirei fundo, o olhos vagos, um turbilhão de lembranças ruins de minha própria vida invadiram aquele último minuto. Pulei. Ainda consegui ouvir o barulho do meu pescoço quebrando, tão frágil, minha visão foi escurecendo como o final de um filme. Desfaleci.
Foi apenas um sonho, nos poucos momentos de sono que tenho, preciso manter a fé, preciso acreditar que vou voltar a sentir paz. Vivo um dia de cada vez, com muita dificuldade, não é fácil todas as noites você ser a única pessoa acordada.
"ficção viu?"